Cel. Fabriciano, 23 de novembro de 2024

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12 set
Imagem: Internet

Pistas para Homilia – 24º Domingo do TC – Ano A

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A Palavra de Deus nos propõe falar do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida. Somos convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixar que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque nossa relação com os irmãos.

PRIMEIRA LEITURA – Ecl 27,33-28,9

A verdadeira “sabedoria” está em não se deixar dominar pelo rancor, pela ira e pelos sentimentos de vingança. O “sábio” é aquele que é capaz de perdoar as ofensas e de ter compaixão pelo seu semelhante. Quem se recusa a perdoar ao irmão, como poderá ter a coragem de pedir o perdão de Deus? Mas quem perdoa as ofensas dos outros, poderá pedir e esperar o perdão do Senhor para as suas próprias falhas. Diante da realidade final que nos espera, que sentido é que fazem os sentimentos de rancor, de ira, de vingança que alimentamos nesta terra?

Todos os dias vemos, nas notícias que nos chegam de todos os cantos do mundo, onde nos leva a lógica do “responder na mesma moeda”. É este o mundo que queremos? A “sabedoria” de Deus mostra que a felicidade do homem está em cultivar sentimentos de perdão e de misericórdia. Qual a sua opção? Nossa vida nesta terra está marcada pela brevidade e pela finitude e não pode ser estragada com sentimentos que só nos magoam a nós e aos outros.

SEGUNDA LEITURA – Rm 14,7-9

Paulo considera que existem dois tipos de crentes na comunidade cristã de Roma: os “fortes” e os “débeis”. Os “fortes” são aqueles que já se libertaram decisivamente da escravidão da Lei e dos ritos e consideram que só os valores do Evangelho são decisivos no caminho da fé. Os “fracos” são aqueles que fazem finca-pé nas leis, nos ritos e nas tradições antigas e ficam escandalizados pelo fato de esses valores não serem assumidos por toda a gente. Muito provavelmente, estes dois grupos viviam em confronto, provocando uma certa divisão na comunidade.

Paulo recorda a todos – aos “fortes” e aos “débeis” – que pertencem ao Senhor. Isso é muito mais importante do que as opiniões particulares acerca do caminho a percorrer para atingir o mesmo objetivo. Os crentes, antes de se deixarem dividir e separar por questões verdadeiramente secundárias (que tipo de alimentos se devem comer, que festas se devem celebrar, que jejuns se devem fazer), devem ter consciência do essencial da fé e daquilo que os une: Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para a todos dar a mesma vida. Paulo está consciente de que há vários caminhos válidos para chegar a Cristo e à sua proposta de salvação. A comunidade tem de estar consciente de que a diversidade não exclui, necessariamente, a unidade.

Existem, às vezes, na comunidade cristã certas pessoas que se consideram muito santas e virtuosas porque cumprem determinadas regras, são fiéis a determinados ritos e têm sempre presente os mandamentos da santa madre Igreja. Discutem se se deve receber a comunhão na mão ou na boca, se se deve ou não ajoelhar à consagração, se determinado cântico é litúrgico ou não, se os padres devem ou não casar, se a procissão do santo padroeiro da paróquia deve fazer este ou aquele percurso. Paulo recomenda-lhes: “não julgueis nem condeneis os vossos irmãos; não esqueçais que a única coisa importante e decisiva é Cristo, a quem todos pertencemos”.

EVANGELHO – Mt 18,21-35

O mandamento do perdão não é novo. Os catequistas de Israel ensinavam a perdoar as ofensas e a não guardar rancor contra o irmão que tinha cometido qualquer falha. A grande discussão girava, porém, à volta do número limite de vezes em que se devia perdoar. Pedro, o porta-voz da comunidade, consulta Jesus acerca dos limites do perdão. Deve-se perdoar sempre? (até sete vezes/ sete totalidade). Jesus responde que não só se deve perdoar sempre, mas de forma ilimitada, total, absoluta (“setenta vezes sete”).

A parábola de Jesus ilustra essa dimensão do perdão divino (absoluto) e do perdão humano (limitado) e sugere que cada um de nós precisa chegar o mais perto possível da capacidade divina de perdoar. A nossa lógica está, tantas vezes, distante da lógica de Deus. Diante de qualquer falha do irmão (por menos significativa que ela seja), assumimos a pose de vítimas magoadas e, muitas vezes, tomamos atitudes de desforra e de vingança. Se o nosso coração não bater segundo a lógica do perdão, não terá lugar para acolher a misericórdia, a bondade e o amor de Deus.

O “mundo” considera que perdoar é próprio dos fracos. Deus considera que perdoar é dos fortes, dos que estão dispostos a renunciar ao seu orgulho e autossuficiência para apostar num mundo novo, marcado por relações novas e verdadeiras entre os homens. A lógica do mundo só tem aumentado a espiral de violência, de injustiça, de morte; a lógica de Deus tem ajudado a mudar os corações e frutificado em gestos de amor, de partilha, de diálogo e de comunhão. Para mim, qual destas duas propostas faz mais sentido?

O perdão, porém, não pode ser confundido com passividade, com alienação, com conformismo, com covardia, com indiferença. O cristão, diante da injustiça e da maldade, não esconde a cabeça na areia, fingindo que não viu nada. O cristão não aceita o pecado e não se cala diante do que está errado; mas não guarda rancor para com o irmão que falhou, nem permite que as falhas derrubem as possibilidades de encontro, de comunhão, de diálogo, de partilha… Perdoar significa estar sempre disposto a ir ao encontro, a estender a mão, a recomeçar o diálogo, a dar outra oportunidade. Quem faz a experiência do perdão de Deus, envolve-se numa lógica de misericórdia que tem, necessariamente, implicações na forma de abordar os irmãos que falharam.

Fonte: Padre Evaldo César de Souza, C.SS.R

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