Cel. Fabriciano, 20 de abril de 2024

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22 maio
Imagem: Arquidiocese de Florianópolis

Soberba X Orgulho: reflexões sobre pecado e graça

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Sete Semana com Jesus/ 2021
Pecados Capitais/ Virtudes capitais
Semana 07 – soberba X orgulho

Inspiração: atentar para as armadilhas espirituais que nos coloca a sociedade hedonista, do prazer acima de tudo e das conquistas e benesses corporais em detrimento do crescimento integral da existência humana.

Para começo de conversa…

“O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios.” Este pensamento de Santo Agostinho parece não ser mais levado em tanta consideração. Pois, a vaidade parece estar cada vez mais em alta nesta sociedade, onde o individualismo o “empreendedorismo” passaram a ser metas, valores, fortemente estimulados. Aquele que já foi visto como o maior e o primeiro dos pecados capitais por seus atributos maléficos – o orgulho – hoje virou virtude. Disfarçada e rebatizada de autoestima, a vaidade é agora “amor próprio”. Já a humildade, remédio contra o vírus do orgulho, essa pobrezinha, virou um grande defeito!

Entretanto, não nos enganemos. Por detrás dessa publicidade moderna, o orgulho continua a ferir os homens e afastá-los de si, dos outros e de Deus. Refletir sobre este mal, ainda que nos pareça situação anacrônica, vai nos possibilitar refazer nossas rupturas interiores.

O rã e o boi – uma historinha de orgulho!

Tomavam sol à beira de um brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro:
– Quer ver – disse a rã- como fico do tamanho deste animal?
– Impossível rãzinha. Cada qual como Deus o fez.
– Pois olhe lá!-retorquiu a rã estufando-se toda-Não estou “quase” igual a ele?
– Capaz! Falta muito amiga.
A rã estufou-se mais um bocado.
– E agora?
– Longe ainda…
A rã fez um novo esforço.
– E agora?
– Que esperança…
A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que, PLAF!, rebentou como um balãozinho de plástico.

Etimologia

O pior dos pecados capitais, origem de todos os outros, é chamado nas origens de superbia (soberba), e foi traduzido também como orgulho. Geralmente atribui-se à soberba a maternidade de três grandes pecados: o orgulho, a vaidade e a vanglória. Estes dois últimos têm a sua raiz em vazio, ocioso (vanitas). Não sem razão se diz que o vaidoso está cheio de ar! A soberba tem muitos filhos: orgulho, vaidade, vanglória, arrogância, prepotência, presunção, autossuficiência, amor-próprio, exibicionismo, egocentrismo, egolatria.

(Em tom de ironia) O soberbo precisa estar sempre bem, alegre, bonito, vitorioso; odeia fracassos, defeitos, erros, está acima da maioria das pessoas, cheio de preconceitos e de discriminações; nunca fica atrás de ninguém, sempre ter que sair por cima: se alguém lhe diz que acorda às 5h da manhã, ele logo retruca que acorda às 4h30; se alguém lhe diz que viajou para a praia, ele adianta-se em afirmar que conhece o litoral brasileiro de norte a sul; e mesmo se alguém afirma que está com uma dor de cabeça, ele logo adianta-se em reclamar do tumor cerebral que ele carrega!

Citações

“Todos aqueles cujas almas são sufocadas pela soberba e a arrogância sempre estão fazendo se identificar também pela ingratidão, um dos mais baixos sentimentos que assolam a humanidade” (Ivan Teorilang).

“Não se vanglorie por suas mil qualidades, pois podem ser abolidas por um só defeito, a soberba” (Leyla Alves).

“A soberba faz o grão de areia pensar que é montanha” (Maurício Cavalheiro).

“Perdemos a alegria ao humilhar o próximo, pois a soberba é o vazio da vida com cheiro de morte” (Renato Marcelo Machado).

“Não se encha de ar: senão basta uma alfinetada para o estourar” (Friedrich Nietzsche)

Definição de soberba (orgulho)

Todos os sete pecados capitais tem por objetivo a satisfação de um desejo. O pecado da ira tem por desejo defender-se de uma suposta agressão ou atacar por pura maldade. O pecado da inveja tem por objetivo rebaixar aquele por quem se sente inveja. O pecado do preguiçoso consiste no desejo de nada fazer. O pecado da avareza, em desejar acumular bens. A gula, em se apropriar de alimentos, não para suprir as necessidades do corpo, mas apenas para obter prazer. E, a luxúria deseja apenas o prazer.

Já, o orgulho, se alimenta de um desejo mais perverso que todos os mencionados anteriormente: o desejo que alimenta o orgulho é o de superioridade. O orgulhoso deseja sentir-se superior aos demais. Superior a todos! Tudo vale quando se deseja “ser superior” aos outros, inclusive afundar-se em todos os outros pecados!

O orgulho é considerado o mal supremo. É pelo orgulho o diabo se tornou diabo. Lúcifer, desejando ser Deus, despenca do Céus para a derrota dos infernos. O pecado do orgulho transformou Lúcifer, um querubim ungido de Deus, o próprio “modelo de perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza”, em Satanás, o diabo, o pai da mentira, aquele para qual o próprio inferno foi criado. Já a humildade é representada pela figura de Cristo – o homem que sendo igual a Deus escolheu por rebaixar-se à condição humana e a sofrer a morte mais humilhante para a época, a morte de cruz.

Também foi pelo orgulho e desejo de conhecer o bem e o mal que Adão e Eva sucumbem aos apelos da serpente. O pecado das origens nada mais é do que o orgulho humano, que fez nascer em si todos os outros males que afligem a frágil existência do homem sobre a terra. Em Gênesis, lemos: “Disse a serpente à mulher: Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também” (cf. Gn 13,1-7).

O orgulhoso, por ter compulsão em somente olhar para baixo ao relacionar-se com as pessoas (jamais considera que alguém possa estar acima dele), terá problemas em adorar a Deus. Quando o faz, pratica uma religião fingida, acreditando que Deus exista unicamente para justificar a aprovar todos os seus comportamentos, como os fariseus que se julgavam superiores e criam ter as benesses de Deus! Sempre que a nossa vida religiosa nos faz pensar que somos bons ou melhores que os outros, com toda certeza isto não vem de Deus.

A presunção leva aos outros vícios. O orgulho pode ser definido como um estado da mente contrário a Deus. O orgulhoso sente prazer em ter mais que o próximo. Não é o ser rico, se achar bonito ou inteligente que tornam a pessoa orgulhosa, mas em se considerar mais inteligente, mais bonito, mais rico que os outros. A pessoa orgulhosa é como um grão de trigo jogado na água: incha, fica grande. Exponha esse grão ao fogo: ele seca, queima. A alma humilde é como um grão de trigo jogado na terra: desce, esconde-se, desaparece, morre; mas para reviver no céu.

A soberba consiste em a pessoa sentir-se como se fosse a “fonte” dos seus próprios bens materiais e espirituais. Acha-se cheia de si mesma e se esquece de que tudo vem de Deus e é dom do Alto, como disse São Tiago: “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes” (Tg 1,17). O orgulhoso considera mérito seu aquilo que recebeu como dom ou talento. Acha que tudo o que faz ou tem é mérito único e exclusivo de seu esforço e dedicação, não percebe a grande engrenagem que liga todos e cada ser humano entre si e com o seu ambiente.

Ele é antes de tudo egocêntrico, pensa no eu em detrimento do nós, e não tem nenhuma preocupação, empatia ou sentimento de caridade em relação ao outro, sobretudo se o considera como rival e competidor. O pecado do orgulho é uma preocupação com o eu. O orgulho tem tudo a ver com “eu, meu e eu mesmo”, pois o pecado em si também é centrado no “eu”. Se você viver unicamente preocupado consigo mesmo, com seus interesses, conquistas e prazeres, então também está sofrendo do pecado do orgulho.

O orgulho sustenta a competição de um modo que os outros vícios não o fazem. O orgulho é essencialmente competitivo. Quanto mais orgulhosa é uma pessoa, mais detesta o orgulho da outra pessoa. O orgulho dos outros concorre com o orgulho da própria pessoa. Vaidoso vive de comparações, tem como superior, mas da muita atenção à opinião dos outros, precisa mostrar-se: como um pavão, que tem belas penas, mas pés e voz odiosos!

Existem diversos tipos de orgulho:

1- O orgulho dos bens exteriores.

Estes bens são todos aqueles que asseguram honra e consideração, por conseguinte, vantagens e qualidades exteriores: a beleza, a fortuna, o nome, a classe, as honras. Constituem uma simples fachada, brilhante talvez, que, encobre muito mal a nossa pobreza interior.

2- O orgulho da vontade.

Este orgulho que reside na vontade nutre-se dos bens que a vontade encontra em si mesma, de sua independência, de seu poder de mandar e de seu força, da qual tomou consciência. Exprime-se por uma recusa a se submeter à autoridade estabelecida, uma confiança em si exagerada e por uma ambição dominadora”. Este tipo de orgulho recusa a submissão a Deus, transformando-a em um terrível sofrimento. Coloca toda a sua confiança no poder e na eficácia de seus esforços, esquecendo da palavra de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer”.

3- O orgulho espiritual.

Este orgulho é um dos mais difíceis de extirpar e que não pertence ao caminho do homem que vive sem Deus, mas daquele que trilha um caminho de santidade e tem uma vida espiritual. O orgulho espiritual ufana-se não só de suas obras como se fossem só dele, mas também dos seus privilégios espirituais. Pertencer a um estado, a uma família religiosa que tem grandes santos, que possui uma doutrina, uma grande influência, é uma nobreza que cria obrigações e pode também alimentar um orgulho espiritual que esteriliza e cega diante das novas manifestações da Misericórdia divina.

São Tomas de Aquino determinou sete características inerentes ao orgulhoso:

1. Jactância: Ostentação, vanglória, elevar-se acima do que se realmente é.

2. Pertinácia: Uma palavra bonita para cabeça-dura e teimosia. É o defeito de achar que se está sempre certo.

3. Hipocrisia: o ato de pregar alguma coisa para ficar bem entre os semelhantes e, secretamente, fazer o oposto do que prega. Muito comum nas Igrejas.

4. Desobediência: por orgulho, a pessoa se recusa a trabalhar em equipe quando não tem suas vontades reafirmadas.

5. Presunção: achar que sabe tudo. É um dos maiores defeitos encontrados nos céticos e adeptos do mundo materialista.

6. Discórdia: criar a desunião, a briga. Ao impor nossa vontade sobre os outros, podemos criar a discórdia entre dois ou mais amigos.

7. Contenda: é uma disputa mais exacerbada e mais profunda, uma evolução da discórdia onde dois lados passam não apenas a discordar, mas a brigar entre si.

O orgulho nas Sagradas Escrituras – alguns apontamentos

Podemos dizer que sendo considerado o pecado por excelência, a soberba está praticamente presente em toda a escritura, e Deus é claro em orientar seu povo na superação desse mal pelo exercício da humildade. Tanto situações da Antiga Aliança, como as orientações para a Igreja que nasce com os apóstolos, recebem como exortação firme e necessária o que o apóstolo Paulo afirma quando diz: “O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica” (1 Cor 8,1). Também o apóstolo João vai condenar o orgulho e a relação de dependência do mundo material, “pois tudo o que há no mundo, a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do mundo” (1 João 2,16).

No livro do Eclesiástico está escrito: “O princípio do orgulho humano é abandonar o Senhor e ter o coração longe do Criador. Porque o princípio do orgulho é o pecado e o que possui difunde abominação” (Eclo 10,12-13).

No Novo Testamento, o Magnificat exulta “dispersou os homens de coração orgulhoso” (Lc 1,51) O canto de Maria nos diz que Deus “exaltou os humildes” (Lc 1,51) e Jesus exorta os seus discípulos: “quem quiser ser o maior, seja o menor” (Lc 22,26); “quem quiser ser o maior que se faça servo dos outros” (Mt 20,26). Jesus enfrenta à hostilidade dos fariseus, cuja incredulidade é fruto da sua orgulhosa autossuficiência, uma vez que estes vivem apoiados apenas pelos seus méritos e no seu rigoroso cumprimento da Lei, ao que o Senhor responde: “Aquele que se exaltar, será humilhado” (Mt 23,12).

A humildade é reconhecida pelos santos como uma das virtudes mais importantes que existem e que mais nos assemelham a Cristo, uma vez que Ele mesmo reconhece “sou manso e humildade de coração” (Mt 11,29).

Remédio contra o orgulho: a humildade!

A sabedoria popular costuma dizer que o orgulho é tão enraizado em nós que “só morre meia hora depois do dono”. Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Jesus, “manso e humilde de coração” (cf. Mt 11,29), e também marcou a vida de Maria, “a serva do Senhor” (cf. Lc 1, 38), José e todos os santos da Igreja.

São Vicente de Paulo ensinava a seus filhos que o demônio não pode nada contra uma alma humilde, uma vez que, sendo ele soberbo, não sabe se defender da humildade. Por isso, com essa arma, o maligno foi vencido por Jesus, Maria, José, São Miguel e os

O soberbo se esquece de que é uma simples criatura, que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, depende do Senhor em tudo. Como disse Santa Catarina de Sena, a soberba “rouba a glória de Deus”, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Ele.

São Paulo lembra aos coríntios que “nossa capacidade vem de Deus” (II Cor 3,5). Aos romanos ele disse: “Não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto” (Rm 12,3). “Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12,16). Aos gálatas, o apóstolo dos gentios destacou: “Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6,3).

A soberba é o oposto da humildade, palavra esta que vem de “húmus”, aquilo que se acha na terra, pó. O humilde é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra de Deus sobre a Terra, a glória d’Ele, como dizia Santo Irineu, já no século II. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, no século V, ressaltou: “Toda a vitória do Salvador dominando o demônio e o mundo foi iniciada na humildade e consumada na humildade!”.

Mas por que é tão difícil a prática da humildade?

Infelizmente, para muitas pessoas, a palavra humildade está associada à pobreza, fraqueza e inferioridade. O termo humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer “terra fértil”, rica em nutrientes e preparada para receber a semente. Assim, uma pessoa humilde é aquela que está sempre disposta a aprender e deixar brotar em seu coração a boa semente. Ressaltam suas pequenas conquistas ao longo do dia, se colocam no lugar do outro, não sentem a necessidade de expor a todos e a todo o momento as suas qualidades, pois possuem total consciência do seu valor pessoal e principalmente, autoconhecimento.

As pessoas humildes tem consciência do seu valor, e suas principais características são gentileza, simplicidade, respeito, sensibilidade e autoconhecimento. São pessoas que reconhecem os próprios erros, defeitos e limitações. Lembremos de Zaqueu, que tocado por Jesus, assume uma postura humilde, mesmo sendo muito rico!

Maneiras de combater o orgulho e crescer na humildade

1. Oração: basta contemplar o mistério do grande Deus que se faz carne para reconhecer a beleza da humildade.

2. Identificar virtudes e defeitos: a humildade não deve ser confundida com baixa estima.

3. Desejar, pedir, aceitar e correções: o humilde quer sempre crescer e sabe que apenas com a sua percepção de si mesmo não progredirá na virtude.

4. Realizar obras escondidas: enquanto o orgulho deseja ser visto pelos outros, ao humilde basta ser visto por Deus, por isso, não foge de realizar atos virtuosos que ninguém vê.

5. Não fugir das humilhações: só se cresce na humildade sendo humilhado. É na humilhação que morrem as ilusões que criamos a respeito de nós mesmos. Lembremos das palavras de Jesus: “aquele que se humilha será exaltado” (Mt 23,12). Não tenhamos medo de fazer coisas que nunca fizemos, mesmo correndo o risco da exposição e da humilhação pela inexperiência.

Fonte: Pe. Evaldo César de Souza, C.Ss.R