A solenidade máxima do Cristianismo é comemorada com data móvel desde a experiência fundante da religião cristã: a Ressurreição de Jesus. Para mais de dois bilhões de cristãos espalhado pelo mundo, a Páscoa recorda o dia em que Jesus Cristo, um galileu nascido numa pequena vila da Palestina, deixou para trás as barreiras da morte e trouxe vida nova para a humanidade. A Ressurreição foi um evento tão significativo para o grupo que acompanhava Jesus que o medo que eles sentiam dissipou-se e de pouco mais de uma dezena de homens e mulheres nasceu uma das maiores religiões do mundo. Esta ação inovadora dos discípulos de Jesus, que trocam o medo dos governantes judeus e romanos pela ação carismática da pregação em praça pública, é chamada na teologia do argumento social que prova o evento ressurreição. Não há, além do testemunho dos evangelhos da Bíblia nenhum outro argumento que melhor comprove que um dia Jesus abandonou seu sepulcro e voltou à vida de modo glorioso. Qualquer tentativa de provas antropológicas e arqueológicas cai no vazio da indefinição científica.
Para os mais céticos a ressurreição nada mais seria do que uma alucinação coletiva que tomou conta dos discípulos de Jesus. Alguns historiadores, como John Dominique Crossan, da Universidade de Chicago, chegam a propor que o cristianismo é uma histeria coletiva, baseada em fantasias e que de fato o corpo de Jesus, como de qualquer outro crucificado pelo sistema romano de eliminação da pessoa, foi comido por cães selvagens e abutres. Estas teorias sobre o desaparecimento do corpo de Jesus são comuns na história, mas carecem das mesmas fraquezas. Nada há de concreto para afirmar que o corpo de Jesus foi roubado do túmulo ou por feras selvagens. A ressurreição de Jesus deve ser entendida pela lente da fé, mas é inegável que haja algo de extraordinário no evento. Seria preciso construir uma teoria psicológica muito complexa para justificar a ação dos apóstolos após os eventos relacionados com a ressurreição, sem contar o inúmero grupo de homens e mulheres que derramaram sangue testemunhando a veracidade da presença salvífica de Jesus na humanidade. Ainda que se descubra um túmulo com os restos mortais de Jesus isto não contradiz teologicamente o evento da ressurreição. A vida nova de Jesus nada tem a ver com a recuperação material de seu organismo. Esta visão da ressurreição mostra que o corpo ressuscitado é algo novo, diferente daquilo que existia antes da morte. Por que será que Maria Madalena e os discípulos de Emaús não reconheceram Jesus? Diante deles estava um outro completamente diferente na aparência física, mas a mesma pessoa, que foi reconhecida pelo que falou e ensinou e não pela aparência.
Entre teses e antíteses, a teologia cristã reafirma o seguinte como alicerce da religião: o homem de Nazaré, pregador itinerante e conhecedor profundo da humanidade é também o Filho de Deus, encarnado para resgatar a humanidade. Somente existe cristianismo porque existiu a Páscoa de Jesus. O grande discípulo tardio, Paulo de Tarso, irá afirmar várias vezes em suas cartas que somente um Jesus Cristo ressuscitado justifica a pregação apostólica. Ele mesmo foi convertido e gastou sua vida, até o martírio, para fazer conhecida a ressurreição de Jesus. Os evangelhos são escritos tardios, frutos de experiência de fé e não retratos históricos da vida de Jesus. Erra o cristão e qualquer outro estudioso que considere os relatos bíblicos ao pé da letra. A Ressurreição será sempre uma experiência de fé, um fato teológico e real, mas jamais cientificamente capaz de ser comprovado.
Fonte: pe. Evaldo César de Souza, CSSR