Há mais de 300 anos, podemos contar com a presença materna de Nossa Senhora Aparecida na vida do povo brasileiro. Enquanto Igreja, Maria é nossa mãe desde que Jesus a entregou ao discípulo João e disse que dali em diante ela era mãe dele e vice-versa (cf. Jo 19, 25-27).
De tamanho pequeno, exatos 36 centímetros, e de cor negra pela ação do tempo e da Providência Divina, a imagem de Aparecida une a nação brasileira em torno de uma devoção que surgiu para dar visibilidade para o pobre, negro e para quem precisa de libertação. Mas como Mãe, Nossa Senhora Aparecida acolhe todos que chegam a ela, sem nenhuma distinção.
O Missionário Redentorista padre Nelson Antonio Linhares, que é o atual superior da Província do Rio, falou ao portal A12 sobre essa relação de amor e devoção a Nossa Senhora Aparecida. Ele ressaltou os sinais da história e a sua mensagem que continua sempre atual. Padre Nelson também explica por que podemos chamar Maria de nossa Mãe.
Confira a entrevista completa, logo abaixo:
A12 – O senhor poderia destacar uma ou algumas realidades da história de Nossa Senhora Aparecida que mais revelam a sua presença materna para com o povo brasileiro?
Sim, a história da Mãe Aparecida está profundamente entrelaçada com a nossa realidade brasileira. Nossa Senhora Aparecida recorda a proteção da Virgem Maria, sua presença materna e consoladora, experimentada em 1717 por três pobres pescadores. As redes vazias dos pobres quase se romperam pela abundância de peixes após o “aparecimento” da imagem enegrecida da Imaculada Conceição. Desde então, aquela pequena imagem recorda ao povo brasileiro a presença materna da Mãe do Senhor na nossa história e na nossa Terra.
Interessante notar também que o fato maravilhoso de Aparecida aconteceu dentro de um contexto de grande opressão gerado pelo colonialismo português no qual, sobretudo, os pobres, e ainda mais especialmente, a população negra padecia grandes sofrimentos. Assim como em outras aparições marianas, os pobres são os primeiros beneficiários dos favores e da mensagem da Virgem, sempre apontando para a conversão de todos ao evangelho de seu Filho Jesus. Em cada uma destas manifestações pode-se claramente concluir de suas mensagens a mensagem maior que Maria sempre procurou incutir em seus filhos: “fazei tudo o que Jesus vos disser”.
A12 – A imagem de Nossa Senhora Aparecida (N. S. da Conceição) traz a Virgem Maria grávida. A partir desse contexto, qual é a principal mensagem da “Mãe” Aparecida ao povo brasileiro?
A imagem da Mãe Aparecida é pequena, negra e simples. Contemplá-la ou rezar diante dela é uma convocação a sermos solidários com os pequenos, pobres e necessitados de nosso país. Uma solidariedade que nos leva à defesa dos direitos fundamentais (que tantas vezes são desrespeitados!), à prática da caridade evangélica e da promoção humana, à denúncia da cultura de morte que gera um mundo ferido.
Outra mensagem fundamental é a importância de vivermos a humildade e a simplicidade no coração, superando o orgulho, a soberba, a arrogância, a ganância dos bens.
Devemos aprender ainda a acolher cada pessoa como irmão e irmã, respeitando as diferenças, praticando a tolerância e construindo a comunhão e a unidade.
A12 – Por que podemos chamar a Virgem Maria de nossa Mãe?
O Concílio Vaticano II inseriu Maria como imagem e modelo da Igreja, Mãe de Deus e da Igreja. Ela ocupa papel fundamental na história da salvação. Na Constituição Lumen Gentium (n. 63), há a afirmação: “A Mãe de Deus é modelo e figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava Santo Ambrósio”.
Do título “Mãe de Deus” decorrem todos os outros títulos que a fé popular atribuirá a Nossa Senhora. Da maternidade divina de Maria passou-se rapidamente à sua maternidade espiritual a partir do texto de João 19,26-27: “Vendo assim a sua mãe e perto dela o discípulo que ele amava, Jesus disse à sua mãe: ‘Mulher, eis aí o teu filho’. A seguir, disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.”
Maria, Mãe de Deus, é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. A própria Igreja é imagem da mãe que gera pela evangelização e pelo batismo filhos e filhas concebidos pela ação do Espírito Santo e nascidos de Deus, chamados a viver com a Mãe uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma verdadeira caridade.
Predestinada para ser Mãe de Deus, como foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, Maria foi sua mais generosa cooperadora e a serva humilde do Senhor. Depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, de todos nós, seus filhos que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada.
Fonte: A12