Hoje a Igreja faz memória da dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora no Ocidente cristão. Essa basílica foi construída sobre um primeiro edifício feito pelo Papa Libério no século IV e finalizada após o Concilio de Éfeso (431) para fortalecer o título de “teotokos” (mãe de Deus) dado a Maria Santíssima.
O ato de dedicar algo ao Senhor possui suas raízes mais profundas no Antigo Testamento. Já ali encontramos a dedicação de alguns altares (Nm 7, 10-11. 84. 88), de casas (Dt 20,5) e sobretudo, as diversas e sucessivas dedicações do Templo do Senhor realizadas por Salomão (1Rs 8, 1-66), Esdras (Esd 6, 15-18) e Judas Macabeus (1Mc 4, 36-59). Esta festa tinha sua grande importância para o povo judeu, pois lhes recordava que o Templo onde realizavam suas orações era a casa do Senhor, a morada de Deus no meio deles. Esta festa também os recordava a sua dignidade de povo escolhido pelo Senhor e o seu dever de ser-lhe fiel.
Com toda razão, desde a antiguidade, dá-se o nome de “igreja” aos edifícios construídos nos quais a comunidade cristã (a igreja) se reúne para celebrar os sacramentos, ouvir a Palavra de Deus e fazer suas orações pessoais.
No fim do século I, eram edifícios denominados “Casa de Assembleia”; no século II, “Casa de Deus”, estes últimos normalmente foram edifícios de poderosos, que se convertiam e doavam esses edifícios para a Igreja. Isso é bem identificado por volta do ano 300 d.C., quando Constantino recebeu a evangelização de sua mãe Santa Helena.
Em Jesus Cristo, a ideia de casa de Deus, de templo, não diz respeito apenas a um edifício, mas as pessoas que formam uma comunidade, uma ecclesia, uma assembleia. Por sua morte e ressurreição, Jesus Cristo, Nosso Senhor, tornou-se o verdadeiro e perfeito templo da Nova Aliança e com isso congregou aqueles que se tornaram o povo de Deus.
Jesus havia escolhido Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). O apóstolo Paulo faz a comparação e apresenta a imagem da Igreja como um corpo, que tem como cabeça Jesus Cristo (1Cor 12). O apóstolo Pedro, em sua carta pastoral, dizia à comunidade: “Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo” (1Pd 2,5). Pode-se verificar que não havia uma preocupação de construir um templo, aliás, no próprio discurso de Estevão ele diz que Deus não mora em casa feita por mãos humanas (At 7,48). De qualquer forma, também no início da Igreja, os apóstolos se reuniam nas casas para rezar. Paulo estava provavelmente numa casa, estavam reunidos para a fração do pão; e como se delongou na pregação, um jovem caiu da janela (cf. Atos 20,9).
Um rito muito belo que manifesta a dignidade desta igreja de construção e nos mostra o mistério do Povo de Deus que é a Igreja. É ao Bispo, que tem a seu cargo a cura pastoral da Igreja particular, que compete dedicar a Deus as novas Igrejas construídas dentro da sua diocese, ou aquelas nas quais já se celebram o culto. Esta celebração presidida por ele traz consigo diversos elementos que nos revelam o mistério da Igreja.
Um destes elementos é a aspersão, simultaneamente do povo e das paredes da igreja, com a água benta que o Presidente faz logo no início da celebração. Esta como lembrança do batismo um dia recebido, nos recorda que como cristãos também nós somos consagrados ao Senhor. Outro elemento é a própria oração de dedicação e unções do altar e das paredes. Neste rito, após a oração da ladainha dos santos, são depositadas as relíquias (rito opcional) de um ou alguns santos sob o altar. Em seguida o Bispo recita a oração de dedicação, oração que desenvolve amplamente a teologia sobre a Igreja, da qual este edifício é sinal. Terminada esta oração ele procede ungindo o altar e as paredes da igreja com o óleo do crisma. Unção que, na tradição judaico-cristã, é o sinal mais claro da consagração de algo para Deus. A seguir se procede com o rito da incensação do altar, do povo e das paredes. O incenso que simboliza as nossas orações que sobem ao céu. Por último, após arrumar o altar como de costume para a Santa Missa, procede-se com a iluminação da igreja, onde se acendem as velas do altar e as velas que foram colocadas nas paredes da igreja onde o bispo assinalou com a unção. Daí a missa prossegue como de costume.
Fonte: Dom Orani João Tempesta