“Recentemente, o cinema brasileiro lançou o filme ‘Lucicreide vai pra Marte’. A atriz Fabiana Karla, juntamente com outros quatro personagens, se inscrevem para irem a uma viagem sem retorno ao planeta vermelho. Dentre eles, está o personagem do ‘Padre João’. Interessante, que em um determinado momento do filme, Lucicreide tem um pequeno diálogo com os outros quatro participantes sobre o porquê desejam desistir da vida na Terra.
Padre João diz estar cansado da missão, e também não tem família, nem filhos. Com palavras bem simples, a empregada doméstica, convence o padre de continuar sua missão por aqui mesmo…
Na data de hoje, mais um sacerdote católico desistiu da vida. Somam-se 5 suicídios de padres neste ano de 2021, e o segundo apenas neste mês de Julho. Ambos os casos aconteceram em Minas Gerais.
O que está acontecendo com os padres? Precisaremos nos ‘acostumar’ com estas notícias? A Igreja, como instituição, tem noção do que está acontecendo? Como vamos impedir esse estranho fenômeno na Igreja do Brasil? Quem serão os primeiros clérigos e leigos a se sensibilizarem com esta epidemia maldita e ignorada? Onde começarão os primeiros cuidados? De onde partirão as primeiras ações? A quem os padres doentes e cansados podem e poderão recorrer?
Ainda que sem intenção, o filme brasileiro, no que tange ao personagem do ‘Padre João’, acaba sendo um retrato de grande parte do clero brasileiro. Síndrome de Burnout ou Vazio Existencial, fato é que os padres estão expostos diariamente à pressões de todos os lados, não possuem rede de apoio no presbitério, estão praticamente abandonados pela instituição, sofrem a solidão existencial, eclesial e social, e muitos (como o que cometeu suicídio hoje) estão psiquicamente comprometidos pela falta de saúde mental e emocional.
Um aviso aos padres: Somos todos vulneráveis e adoecemos. Não esperem ajuda da Igreja. Comecem a se amar e a se cuidarem mais! Falem sobre as suas dores e procurem ajuda profissional!
Um aviso aos bispos: Os padres devem ser a prioridade do ministério de vocês. Ah, conselho dos psiquiatras e psicólogos: Não deixem os padres que estão fazendo tratamento psiquiátrico morarem sozinhos!
Um aviso aos reitores: Trabalhem saúde e inteligência emocional no seminário! Falem sobre ideação e comportamento suicida. Chamem psicólogos para os ajudarem na formação inicial, e lembre-se que os futuros seminaristas serão cada vez mais vulneráveis…
Um aviso aos leigos não profissionais: Não adianta só rezar. É preciso ver e fazer algo pelos padres de vocês!
Um aviso aos leigos que trabalham na saúde: Ajudem, por favor, os padres! Médicos e psicólogos católicos, os padres do Brasil pedem socorro! Eles não irão a vocês. Por favor, se antecipem!
Embora o atual cenário eclesial e social não ajudem, não podemos permanecer inertes contabilizando os padres suicidas. Mais de 90% dos suicídios, segundo a OMS, poderiam ser evitados. A Igreja no Brasil precisa de um plano nacional que promova a saúde integral dos presbíteros. Precisamos de estratégias de educação, prevenção e manutenção para a saúde mental dos padres.
Precisamos cuidar da depressão no clero. Os padres precisam urgentemente de mais acesso às diferentes modalidades terapêuticas. Assim como o episcopado francês, o Brasil precisa de um estudo sério sobre a saúde dos seus padres. Fatores de risco e proteção precisam ser encontrados, estudados, enfraquecidos e fortalecidos, respectivamente.
Se Lucicreide salvou o Padre João no filme, muitos homens e mulheres na vida real podem ajudar e salvar a vida dos padres cansados, depressivos, abandonados e doentes no Brasil. Irmãos padres não se matem! Irmãos padres, não precisamos ir a Marte! Padres, não desistam da vida na Terra! Vamos reencontrar uma forma mais humana, mais saudável e mais sacerdotal aqui na Terra. Precisamos! Queremos! Encontraremos…”
Fonte: Padre Simeão do Espírito Santo