Cel. Fabriciano, 23 de abril de 2024

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30 abr
Imagem: paieterno.com.br

Inveja X Caridade: reflexões sobre pecado e graça!

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Sete Semana com Jesus/ 2021

Pecados Capitais/ Virtudes capitais

Semana 04 – Inveja X Caridade

Inspiração: atentar para as armadilhas espirituais que nos coloca a sociedade hedonista, do prazer acima de tudo e das conquistas e benesses corporais em detrimento do crescimento integral da existência humana.

Inveja X Caridade : reflexões sobre pecado e graça!

Para começo de conversa…

A inveja é o mal oculto, o pecado envergonhado. Todos nós nos consideramos alvos da inveja, mas ninguém reconhece-se invejoso. Seria o reconhecimento absoluto da minha incompetência. Feliz aquele que chega a conclusão que no mundo há diferentes qualidades, saberes, potencialidades. É preciso aceitar que as pessoas não são iguais. Mais: inveja é algo próximo, algo que sentimos de quem participa de nosso círculo social, ou de quem a gente se sente participante (redes sociais por exemplo).

É como a história da cobra que persegue o vagalume. Depois de três dias, e sem forças para fugir, ele virou para a cobra e disse: “posso lhe fazer três perguntas”?

– “Sim, eu vou te devorar de qualquer forma” – respondeu a cobra

– Pertenço a sua cadeia alimentar? Lhe fiz algum mal? – Indagou o vagalume

A cobra respondeu negativamente, então o vagalume finalizou:

– Então por que você quer me comer?

– Porque não suporto ver você brilhar, respondeu a cobra.

De igual drama é a história da Branca de Neve e dos Sete Anões, onde a Madrasta, mulher bela e atraente, não se conforma em saber que a beleza de Branca de Neve é ainda maior. Prefere tornar-se feia como uma bruxa para ver Branca de Neve perecer, do que contentar-se em ser bonita ao seu modo. Perde tudo para que o outro não tenha nada. Mas se dá mal no final!

1. Etimologia

O escritor Zuenir Ventura assim escreve no seu livro – Inveja, Mal Secreto: “Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha. Não se pode confundir ciúme com cobiça ou inveja”, ainda que a cobiça seja uma espécie de inveja.

Inveja vem do latim invidere, e significa “não ver”, ou ver de modo dissimulado. É o olhar com intenção maliciosa para alguém por causa do que a pessoa é ou possui. O invejoso não vê percebe a energia que desperdiça ao abandonar a sua vida para viver a dos outros. A inveja é conceituada no dicionário como “desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outra pessoa, desejo violento de possuir o bem alheio, cobiçar o que é dos outros”.

No Novo Testamento a principal palavra traduzida como “inveja” é o grego phthonos que vem de uma raiz cujo significado pode indicar um comportamento destrutivo. Isso significa que no vocábulo grego, a inveja é aquele tipo de sentimento que leva alguém a consumir-se.

A inveja é um dos sete pecados capitais na tradição Católica. É considerado pecado porque uma pessoa invejosa ignora suas próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento espiritual. A inveja não tem idade, religião, cor, sexo ou posição social. Há muita gente bem resolvida financeiramente e ocupando posições de destaque socialmente que são profundamente invejosas.

Com pecado capital a inveja dá a luz a muitas outras falhas morais: já citamos o ciúmes e a cobiça, e podemos acrescentar a falsidade, a dissimulação, o desdém, a mentira, a maledicência, as fofocas, calúnia, difamação e o chamado schandenFreunde, palavra alemã que não tradução em português, mas refere-se ao prazer interior de ver uma pessoa perder o que tem, aquela satisfação de ver o outro se dando mal na vida!

A inveja é o pecado ligado ao olhar. Por meio dos olhos o invejoso tenta invadir a vida do outro, tenta sugar-lhe a paz de espírito, dissimula a sua tristeza dolorida de estar sofrendo com as vitórias do outro. Essa ideia do olhar invejoso é tão forte que temos muitas superstições para espantar o mal-olhado e o olho- gordo… mas fique claro: a inveja de alguém só me prejudica se eu permitir ser influenciado por suas atitudes. Não é uma capacidade mágica que pode destruir as minhas conquistas.

Na Bíblia não encontramos sequer uma passagem que afirme que a inveja alheia possa nos trazer algum mal subjetivo como, por exemplo, nos deixar doentes, atingir bichinhos de estimação, fazer algo de ruim acontecer conosco como resultado do poder da inveja de alguém.

Mas a inveja pode trazer males de forma objetiva. Por exemplo, alguém sente tanta inveja que assassina outra pessoa, ou tenta puxar o tapete dela no trabalho, ou fala mal dela para os outros, etc. Assim, pessoas invejosas de má índole podem tramar ações que prejudiquem outras pessoas. Mas não podem provocar algum mal a outros só pelo fato de sentir inveja.

2. Citações

“Eis aí o mau dos invejosos: a falta de sonhos próprios”.

“O que desejar aos invejosos? Muita iluminação, pois vivem na escuridão”.

“Não grite alto a sua felicidade, a inveja tem sono leve”.

”Os Invejosos Jamais Serão capazes de admirar as suas conquistas”

3. Definição do pecado

Inveja ou invídia é um sentimento de angústia, ou mesmo raiva, perante o que o outro tem. A inveja pode ser definida como o sentimento de frustração e rancor gerado perante uma vontade não realizada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual.

É um sentimento de inferioridade e de desgosto diante da felicidade do outro. É um sentimento de cobiça da riqueza, do brilho e da prosperidade alheia. A inveja é o desejo constante que algumas pessoas sentem ao almejar a todo custo as conquistas da vida alheia, é desejar o que o outro possui ou realiza.

Geralmente ficamos entristecidos por causa de uma situação dolorida, uma morte, um acidente, uma doença. O invejoso cultiva uma tristeza não por causa de um mal, mas por causa do bem e da felicidade do outro, seu próximo. Ele se entristece profundamente pelo o que os outros são (altos, magros, jovens, inteligentes), pelos que os outros têm (posses, bens materiais, status) e pelo que os outros transmitem (alegria, bondade, carisma).

Quando sentimos aquela inveja que nos faz desejar os bens materiais, o status ou alguma qualidade, como a beleza, de outrem, a área ativada é a mesma responsável por processar as sensações de dor física. A inveja dói! O invejoso literalmente fica dolorido e entristecido quando se compara ao seus pares: ele não quer mais o que o outro tem, mas sim ser exatamente o que o outro é .

Primeiro o invejoso, em um estágio básico, tem aquela vontade de ter o que pertence a outra pessoa. “Isso não é justo.” “Quem eles pensam que são?” “Por que não recebo o reconhecimento? Por que são sempre eles que são abençoados?”. Nosso ego está preocupado. Esses sentimentos surgem no trabalho, na escola, em nosso casamento e família e no serviço a Deus.

Depois, manifesta por meio da felicidade com o insucesso do outro, com o desejo de que algo ruim lhe aconteça. O mais dissimulado dos pecados provoca sofrimento, exultação pelo sofrimento do outro e depressão. O invejoso costuma sentir mais prazer com a derrota alheia do que com a sua própria vitória. Ele raramente busca o seu próprio sucesso, mas quando o faz, costuma não contar seus planos a ninguém, pois teme que alguém, semelhante a si, possa agir como ele, jogando carga negativa a fim de impedir o seu triunfo.

A teologia distingue a inveja verdadeira das pseudo-invejas, que na verdade são até mesmo virtudes. Nem toda tristeza pelos bens e comportamentos alheios é inveja.

A inveja verdadeira trata o bem alheio como um mal próprio. O invejoso não suporta que os outros estejam acima dele ou sejam mais felizes ou mais queridos. Essa inveja verdadeira é quase sempre uma tristeza soturna ou irada, pessimista e até doentia, que pode acabar na depressão ou conduz à revolta contra Deus e contra o mundo.

Junto com as verdadeiras invejas estão aquelas mascaradas que se escondem por detrás de sorrisos afetuosos e palavras amáveis, mas que desejam prejudicar a quem finge estimar e até proteger. Todos conhecemos um tipo de comentários, carinhosos e afavelmente condescendentes, que não passam de farpadas venenosas de inveja: “Fulana é tão boa, mas coitada, ingênua!”; “Ciclano foi promovido, que coisa boa! Mas duvido que ele vá dar conta do serviço”; “Essa casa sua ficou linda, mas parece que esse bairro é meio perigoso, está desvalorizado”.

Mas existem também invejas falsas. Há por exemplo aquela tristeza diante do bem alheio, não porque o outro possua esse bem, mas apenas porque o bem que ele tem nos falta a nós. Quer dizer, não temos pena de que o outro esteja bem ou seja feliz e não lhe desejamos mal nenhum; só ficamos tristes por nós não termos as mesmas coisas que admiramos nele. Essa tristeza poderia tornar-se maligna se descambasse para o desânimo, mas pode ser até louvável se for uma aspiração, um desejo de ir atrás daquilo, uma alavanca para melhorar a vida. São Paulo convida-nos a buscar os bens superiores, os dons espirituais (1 Cor 12, 31; 1 Cor 14, 1). É evidente que não recomendava a inveja. Recomendava, sim, a virtude da emulação, que é a qualidade dos que se deixam incentivar pelos bons exemplos dos outros e aspiram honestamente a imitá-los.

Há ainda uma outra pseudo-inveja. É a sacudida de dor, tristeza e indignação que nos causa contemplar pessoas que enriqueceram ou galgaram cargos e posições por meios imorais: injustiças, mentiras, fraudes, roubos, suborno, tráfico, apadrinhamentos desonestos. É uma tristeza diante dos bens alheios, mas fruto da justa indignação contra o mal e a injustiça.

Se ficássemos tristes só porque os outros triunfaram e subiram mais do que nós, seríamos invejosos; mas se nos entristece – e nos indigna – constatar que os corruptos, os falsários, os mentirosos e os exploradores vencem, prosperam e sobressaem – com prejuízo dos honestos e dos justos –, então estamos praticando a virtude do zelo, que nasce do amor à verdade e ao bem.

4. Inveja na Bíblia

Nas Sagradas Escrituras, o primeiro assassinato, um fratricídio, acontece por inveja. Caim mata seu irmão Abel (Gn 4, 1-16). A Bíblia também registra como Raquel, esposa de Jacó, teve inveja de sua irmã por não poder engravidar. Mais tarde, ainda na família de Jacó, a inveja levou os irmãos de José a desejarem sua morte e depois vendê-lo covardemente aos mercadores (Gênesis 37,11).

Também no Decálogo temos um mandamento que rege sobre a cobiça, filha da inveja (“Não cobiçar as coisas de seu próximo). Assim como a avareza tem um demônio a ela relacionado (Mamon), também a inveja tem para si um demônio pessoal, o chamado Leviatã. No livro de Provérbios 14,30 lemos que “a inveja é a podridão de nossos ossos”, ou seja, a pessoa invejosa está doente física, emocional e espiritualmente.

Um dos principais exemplos de pessoa invejosa na Bíblia é o rei Saul. Por inveja ele perseguiu e tentou matar a Davi (1 Samuel 18).

Já no Novo Testamento, encontramos na pessoa do filho mais velho da Parábola do Filho Pródigo o mau exemplo de alguém invejoso que não se alegrou com a restauração de seu irmão e não soube desfrutar da presença do próprio pai (Lc 15). Também no Novo Testamento, vemos que a inveja instigou as acusações dos líderes judeus contra Jesus que o levaram à crucificação (Mateus 27,18; Marcos 15,10).

A inveja jamais deve ser tolerada na Igreja, pois ela é uma ameaça à unidade cristã. Por isso Tiago escreve: “Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa” (Tiago 3,13-16).

5. Atualizando

Algumas mentiras que fazem parte do mundo da inveja:

1. Só sentimos inveja de quem não gostamos: mentira! Podemos invejar nossos amigos próximos, e essa é a pior das invejas.

2. A inveja que sentem de mim é tóxica: ainda que popularmente falemos que a inveja nos atinge, quem sofre com a inveja é quem a sente. Se a pessoa não se alegra com as conquistas do outro, critica, julga ou joga quebranto, quem mais sofre é justamente ela. Certamente a ação de alguém a partir da inveja pode ser maléfica: julgamentos, críticas, desdém, perseguição. Mas a emoção por si só é inofensiva, ainda que uma energia ruim emane da vida do invejoso.

3. Inveja é um traço da personalidade: Achamos que a inveja é um traço de personalidade. Imutável, estável, permanente. Por isso, o senso comum pede para que a gente se afaste das pessoas invejosas. Mas a inveja não é algo que eu tenho e pronto. Como todos os outros vícios, eu posso muito bem me livrar dela

A pessoa invejosa pode emitir alguns sinais sutis sem pensar, e podemos prestar atenção para identificar esses comportamentos. Confira alguns exemplos:

1. Competição: A pessoa invejosa tem a tendência de ter ciúme de nossas conquistas ou a necessidade de que as conquistas dela sejam mais reconhecidas, geralmente iniciando uma competição direta conosco.

2. Estraga-prazeres ou comemoração exagerada: A pessoa invejosa tem a tendência de estragar o momento de felicidade menosprezando a conquista, por menor que seja. Existe também o oposto: você conta um êxito para o invejoso, mas nota que a comemoração é exagerada, ou seja, um fingimento.

3. Espelho: A inveja é uma espécie de admiração, ou seja, a pessoa invejosa entende que você é melhor que ela. Por isso, tem a tendência de imitar suas ações, às vezes com pequenas diferenças, mas sempre com o mesmo objetivo.

4. Críticas: Como necessitam sempre te superar, a opinião do círculo de amigos em comum é muito importante. Por esse motivo, podem aproveitar qualquer ocasião para prejudicar sua imagem com as outras pessoas.

5. Exagera nas próprias conquistas: Geralmente, a pessoa invejosa tem a necessidade de esfregar em sua cara as conquistas que ela obteve.

6. Comemora o seu fracasso: Quando você está em uma fase ruim, essa pessoa estará do seu lado. Ela pode até prometer que te ajudará, mas não o fará. Geralmente fica por perto, pois gosta de vê-lo “inferior”, aproveitando para te botar ainda mais para baixo, te desanimando e fazendo você achar que é impossível resolver seus problemas.

7. Desdém: A pessoa invejosa te desdenhará sem motivo aparente, não dando crédito para suas conquistas e apontando alguma característica ruim.

6. Caridade, o remédio para a inveja

Ainda que seja um sentimento ruim e difícil de dominar, infelizmente a inveja habita dentro de cada um de nós e nos cabe dominá-lo, como qualquer outro sentimento. Entretanto, é sempre bom lembrarmos das palavras do apóstolo Paulo em Filipenses “Considerando os outros superiores a si mesmo” (Fl 2,2). Quando consideramos os outros, deixamos de pensar só em nós, temos menos inveja e somos duplamente abençoados.

E ainda que a inveja de outra pessoa possa causar problemas em nossa vida, quando essa pessoa se vira contra nós e tenta nos fazer mal, a Bíblia diz que a vingança não é a solução. Devemos orar por quem nos persegue e mostrar amor (Lucas 6,27-28). Assim, todos verão que nossa causa é justa e a pessoa com inveja poderá até se arrepender ao ver nossa atitude.

A Caridade alegra-se com o bem do próximo! Leia 1Cor 13, e descubra a força da caridade! Quando a caridade entra em nossa vida, a inveja e todos os vícios se esvaem rapidamente.

Na sala da Caridade temos quatro portas:

A porta da Gratidão;

A porta da fidelidade;

Porta da Generosidade;

Porta das Bem-Aventuranças.

Fonte: Padre Evaldo César de Souza, C.SS.R

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