“Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro.” (1Jo 4,19).
A festa que celebramos hoje nos recorda que “Deus é amor”, como escutamos na segunda leitura da carta de São João. Estas três palavras resumem todo o mistério da união do Pai a seu Filho no seu Espírito. Resumem também todo o mistério da relação entre Deus e a humanidade.
Já no Antigo Testamento, o povo hebreu havia percebido como era amado por Deus e ficavam fascinado pela gratuidade deste amor, e pela fidelidade de Deus neste amor mesmo com as infidelidades de seu povo.
Na segunda leitura percebemos como São João destaca que Deus nos amou primeiro e nos manifestou seu amor enviando seu Filho único a fim de que por ele, tivéssemos a vida em plenitude. Mas isto não lhe era suficiente. Ele tira também daí as consequências para nossa vida, utilizando uma lógica muito simples e sem erro: já que Deus nos amou, devemos não somente amá-lo, mas também amar-nos uns aos outros. E, sempre na mesma lógica, continua: Deus é amor, aquele que PERMANECE no amor, isto é, aquele que é FIEL como o próprio Deus é fiel, esta pessoa permanece em Deus e Deus permanece nela. Ou seja, esta pessoa é introduzida pelo amor no próprio mistério de Deus.
O Livro do Deuteronômio vem em socorro do nosso desejo de responder a este amor, que na verdade é muito exigente, e algumas vezes nos parece impossível corresponder, ainda mais quando se trata de amar Deus no outro. Então escutamos na primeira leitura a importância de guardar as ordens, os mandamentos e os decretos prescritos por Deus, uma vez que esta obediência é percebida como uma expressão de amor e de fidelidade.
Jesus, no Evangelho, não é menos exigente. É para aqueles que desejam andar em seu seguimento, isto é, tornar-se seus discípulos e viver segundo seu ensinamento, que ele revela os segredos do Pai que permanecem ocultos aos sábios e entendidos. Ele próprio se apresenta como doce e humilde de coração.
Recordo que partimos do senso comum que o coração é o lugar dos nossos sentimentos, afetividade, do amor. Assim lembro também os exemplos de vários santos como Gertrudes, Catarina de Siena, Matilde, Margarida Alacoque, João Eudes, e com eles aprendemos a ter uma devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que na verdade é um culto ao amor divino vivido pelo Deus feito homem. Se esta devoção pode conhecer em certa época uma expressão um pouco romântica e sentimental, como dão testemunho uma vasta coleção de imagens piedosas, esta devoção pede nossa contemplação do amor de Deus para nós encarnado em Jesus de Nazaré.
Uma vez que ele tanto nos amou, amemo-nos uns aos outros com o mesmo amor exigente, num amor em saída, de nós mesmos em direção ao outro.
Fonte: Pe. Wilker, CSsR.