Ela não para um minuto. Agita-se, se contorce, rola pelo chão, quer atenção e de vez em quando chora. Tento conversar, controlá-la, mas sua energia parece quase infinita. Daí desisto e deixo ela seguir seu caminho. Então me vejo rindo de mim mesmo, olhando-me no espelho e achando graça no meu cabelo, sorrio ao ver aquele passarinho tomando banho na poeira e paro em frente a TV assistindo documentários sobre os animais da savana africana. A criança me domina com seu jeito simples e me ajuda a ver o mundo com outros olhos. Consigo sentir compaixão pelos mais pequeninos e deixo o estresse de lado, afinal tudo tem solução e logo passarão as dores. A criança que habita em mim tem uma força divina incomensurável.
Quando a criança dorme volto aos meus dramas de adulto. Contas para pagar, regras, disfarces, mentiras, correrias, tristezas que me abalam e tiram o brilho dos meus olhos. Percebo o quanto é difícil ter crescido por dentro e por fora, e quanto tempo eu gasto com coisas inúteis e desnecessárias, como escolher o sapato que vou usar ou o discurso que farei para meus superiores. E tudo para quê? Para ser aceito pelo mundo cinza e mesquinho que os adultos insistiram em construir e que me desconstroem com seu discurso moralista, consumista e esteticamente excludente. Quanto desejo acordar a criança no meio de uma reunião dominada pelas estatísticas e gráficos financeiros; como gostaria que ela me dominasse no meio de um engarrafamento no trânsito de fim de tarde, ou me consolasse nas filas intermináveis do banco na hora do almoço. Mas desvelar a criança em público pode nos expor ao ridículo, nos fazer rir de nós mesmos, nos fazer dançar no meio da rua… e adultos sérios e equilibrados jamais se submetem a esses deslizes comportamentais (infelizmente!!!).
A criança que habita em mim, porém, é persistente. Ainda que deseje escondê-la, ela acha maneiras de me surpreender. Faz-me ridículo, sorridente e desconcerta-me em frente aos adultos engravatados. A criança que habita em me faz soltar piadinhas em reuniões sérias e me leva a comer algodão-doce antes do almoço… a criança que habita em mim segue sendo a melhor parte da minha vida. E quando ela toma conta do meu ser eu consigo entender o que Jesus disse aos discípulos naquela tarde, enquanto caminhava pelas estradas empoeiradas da terra santa – “Para entrar no Reino de Deus é preciso ser como uma criança”. Só mesmo a criança que habita em mim é capaz de me guiar nos caminhos do Céus! Então eu acalmo meu coração, e deixo ela brincar sossegada na minha vida!
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Fonte: Pe. Evaldo César de Souza, CSSR