Sete Semana com Jesus/ 2021
Pecados Capitais/ Virtudes capitais
Semana 03 – Luxúria X Castidade
Inspiração: atentar para as armadilhas espirituais que nos coloca a sociedade hedonista, do prazer acima de tudo e das conquistas e benesses corporais em detrimento do crescimento integral da existência humana.
Luxúria X castidade : reflexões sobre pecado e graça!
Para começo de conversa…
Tentarei não ser moralista, no sentido negativo da palavra. Infelizmente, há muitos grupos e setores da Igreja que pregam uma moral sexual medieval e fora de contexto. Não sou desses que só veem o pecado quando o assunto é sexo. Mas também não posso, como padre, aplaudir certas tendências e costumes sociais que hoje invertem a posição do pecado capital que vamos refletir: para muitos a luxúria deixou de ser um pecado, para ser um estado de graça. Privar-se do prazer, seja ele qual for e como for, é uma privação desnecessária, pois a vida passa rápido e eu tenho que aproveitar. Para quem não crê em nada, para quem só acredita no que pode tocar e enxergar, falar de pecado, qualquer um deles, é mesmo desnecessário. Mas eu estou convencido de que uma pessoa equilibrada, também nos seus instintos de ordem sexual, será muito mais feliz e plena.
Não é segredo para ninguém que a Igreja Católica, e consequentemente as denominações protestantes e evangélicas que dela foram surgindo, teve papel crucial no desenvolvimento da chamada cultura da culpa do Ocidente, na qual as questões de ordem sexual foram as mais abordadas e condenadas. O controle do corpo foi um modo que a Igreja encontrou para manter o controle social e o seu próprio poder religioso e social por séculos. A modernidade e a chegada da chamada “revolução sexual” provocou mudanças drásticas no modo das pessoas compreenderem a vida sexual, e abalou os pontos de vista da fé, que também têm sido discutidos em aulas e estudos de teologia moral.
Mas a Igreja segue afirmando a sacralidade do corpo humano, a beleza da sexualidade e a necessidade do equilíbrio sexual e afetivo como formas de condução sadia da vida dos homens e mulheres. Talvez alguns pontos de vista da fé católica possam parecer anacrônicos e até ridículos aos olhos da cultura da modernidade, mas insistir na beleza dos relacionamentos e na força unitiva do amor é tarefa e missão da instituição que acredita no potencial humano de produzir o bem, ainda que seja cercada pelo pecado. No fundo de nossa consciência sabemos perfeitamente quando nossas atitudes no campo da intimidade sexual está ou não fora de nosso contexto de fé. Deixo a você avaliar a luz da fé seus próprios atos e convicções. Apenas farei meu papel de recordar o que a Igreja nos ensina.
1. Etimologia
“Luxo” vem do Latim LUXUS, “excesso, extravagância”. Provavelmente deriva de LUCTUS, “deslocado” (vide “luxação”), pelo sentido de “fora de lugar”. A luxúria é assim, na raiz, um deslocamento do desejo, um desregramento de ordem sexual, o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Também pode ser entendido como ato de “deixar-se dominar pelas paixões”. Consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade. Sua virtude oposta é a castidade.
2. Citações
“Não há paixão mais egoísta do que a luxúria” (Marques de Sade).
“A luxúria copia a avareza: quanto mais bebe mas sede tem”.
“A coisa mais triste para um homem é acostumar-se a luxúria”(Charles Chaplin)
3. Luxúria na Bíblia (Algumas citações)
“Eu abandonei meu povo ao seu coração endurecido, que sigam seus próprios caminhos” (Sl 81, 12-13)
“Quem olha uma mulher e a deseja no coração já cometeu adultério”(Mt 5,28)
“Vivam segundo o Espírito, e não segundo a carne… pois as obras da carne são fornicação, impureza, libertinagem (…) orgias” (Gl 5,16.19)
“Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual, como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça, pois essas coisas não são próprias para os santos.” (Ef 5,3)
“Cada um é tentado pelo seu próprio desejo, que o atrai e seduz. O desejo gera o pecado e o pecado gera a morte”. (Tg 1,14-15)
“Pois tudo o que há no mundo – apetites baixos, olhos insaciáveis e arrogância do dinheiro – não são coisas que vem de Deus”(1 Jo 2,16-17).
4. Definição do pecado
A luxúria é a busca inútil pela satisfação desregrada dos desejos sexuais. De acordo com o catolicismo, a luxúria é um dos sete pecados capitais, porque indica uma atitude de amor aos prazeres da carne e a comportamento sexuais exagerados e muitas vezes promíscuos. Ela é o desejo desordenado, o prazer por si mesmo que vai contra a finalidade da procriação ou união com outro (CIC 2351). A luxúria ignora os limites e procura satisfazer somente os próprios desejos intensos a todo custo, sem pensar nas consequências. O luxurioso só pensa em si mesmo, usa o outro como objeto de satisfação e nega a santidade da sexualidade humana.
Deus criou o sexo e o exercício da sexualidade para serem desfrutados dentro de padrões de integridade e santidade. Na verdade, a luxúria prejudica o desenvolvimento harmonioso da personalidade, porque atua como uma força contrária em relação à dignidade do ser humano. O que deveríamos entender é que as forças do prazer sexual deveriam nos integrar a Deus e ao outro, e não nos colocar no nível dos comportamentos meramente biológicos e animalescos.
A luxúria faz com que o olhar esteja constantemente revestido de malícia. Assim, as pessoas passam a ser tratadas como objetos de prazer. A luxúria consiste em tratar o sexo como algo meramente físico, deixando de lado o amor que deve revestir a sexualidade
Por isso, na luxúria estão incluídos todos os pecados advindos de desejos sexuais desregrados, tais como: a masturbação contumaz e desproporcional (o prazer fechado em si mesmo), a fornicação (o sexo realizado fora do sacramento do matrimônio e dos vínculos do amor), a pornografia (prazer de ilusão e deturpação dos sentidos), a prostituição (onde fere-se a dignidade humana) e o estupro (no qual se fere a justiça e a caridade, causando danos aos outros para a vida toda), a lascívia (sedução consentida o tempo todo), o adultério (infidelidade aos laços de amor) e todo espécie de libertinagem, seja de qualquer orientação sexual.
A luxúria sexual é a rebeldia de uma pessoa egoísta, enfurecida, porque a lei moral diz: “Não ultrapasse essas fronteiras” e a pessoa decide, por ousadia e desobediência, ir além do que seria aceitável. Ou seja, a luxúria recusa limites. A alma indisciplinada, recusando-se a se satisfazer com Deus, acredita erroneamente que irá satisfazer-se com os prazeres da matéria. Mas como num vício, a luxúria nunca se satisfaz, o prazer acaba muito rápido e doses maiores de ousadias precisam ser inventadas para suprir uma engrenagem diabólica de insatisfação constante. Nossas paixões básicas, deixadas sem controle, podem nos levar a um comportamento abaixo da dignidade humana e prejudicial à saúde.
A realidade triste é que a luxúria não traz satisfação. Por mais que a pessoa ceda a todos os seus desejos, não vai se realizar e acabará mais frustrado, querendo sempre mais. Isso é porque a verdadeira satisfação humana não está nos sentidos, mas na relação íntima e verdadeira com os valores superiores, como o amor e caridade.
Há uma relação íntima entre gula e luxúria. Ambas referem-se a desejos desmedidos de busca do prazer. Por isso já foi dito que para controlar os rompantes da luxúria é sempre bom começar a controlar os apetites da gula. Quando jejuamos, vamos aprendendo aos poucos a controlar nossas paixões e mortificar a carne, fortalecendo assim, o espírito. Se você tem dificuldades para combater a luxúria, comece tentando jejuar, e aos poucos, você vai aprender a controlar seu corpo e não ser controlado por ele.
O luxurioso pode ser:
– individualista: busca prazer em si mesmo, solitário e vicioso, pela pornografia e pela masturbação;
– consumista: busca o prazer na troca financeira, na prostituição em todas as suas formas;
– hedonista: busca o prazer usando os corpos de outras pessoas para satisfação pessoal e egoísta, não vê no outro um alguém, mas um objeto de satisfação de seus próprios instintos e curiosidades.
5. Capítulo a parte: pornografia
A pornografia é um vício, como as drogas, o álcool e o jogo. O fim último da pornografia é lidar com o desejo e a ilusão de ordem sexual, e promover, na maioria das vezes, a masturbação compulsiva. Na verdade, a pornografia age como uma alavanca instintiva para acobertar vazios existenciais profundos, e a masturbação é o resultado imediato desse vazio interior. A pessoa que vê pornografia e se masturba com frequência perde a própria força de vontade. Na medida em que cresce a dependência, pessoas chegam a se masturbar sem sequer sentir prazer. Como, para proteger o organismo, os receptores dos neurônios bloqueiam a passagem de dopamina, cada ato sexual é cada vez menos satisfatório.
O relacionamento conjugal é profundamente abalado quando se consome pornografia. Ao lado de esposos que se viciam em pornografia encontramos esposas tristes e inseguras. As mulheres perdem a autoestima pois não podem ter a beleza artificial e falsa das atrizes pornográficas. Muitos maridos, por sua vez, viciados na ilusão inventada pela indústria pornográfica, passam a sofrer de problemas como impotência e disfunção, porque também não se podem comparar aos verdadeiros garanhões humanos dos filmes. A pornografia realmente mata o amor, desumaniza o ser humano. Que tenhamos, pois a coragem de assumi-la como a grave doença que é, e buscar a restauração.
6. Atualidade do pecado
A luxúria hoje é estimulada através de um marketing sexual pesado na TV, redes sociais, sites pornográficos, que ganham milhões de acessos todos os dias de pessoas viciadas em pornografia. As pessoas que tentam lutar contra a pornografia e viver a castidade por Jesus e pelos mandamentos de Deus são vistos como atrasados, com pensamentos antiquados.
Lascívia, portanto, é o pecado da sensualidade demasiada, do excessivo desejo pelo prazer sexual que se manifesta na falta de pudor, quer seja na forma de falar, de vestir ou de se portar. É o pecado do sexo ainda não consumado, mas já instalado na mente e coração.
A pornografia é uma forma de lascívia, tanto quanto as piadas imorais com conotação sexual também o são. Lascívia é um dos pecados mais cometidos hoje sobretudo nas redes sociais, com a exacerbada exposição do corpo em fotos ou vídeos. O abuso dos decotes, as roupas curtas ou justas ao corpo, delineando as curvas femininas ou a exibição de corpos seminus (homens e mulheres) denotam como a força da sexualidade como produto de consumo já tomou conta de nossa vida. Sem falar das redes sociais
especializadas em promover sexo, adultérios, encontros e todo tipo de possibilidades sexuais possíveis. Em muitos desses casos, a relação se torna forçada, onde o lascivo se preocupa apenas consigo mesmo e se esquece das vontades e necessidades do outro, cometendo crimes, como a pedofilia, o incesto e outros desvios criminosos de ordem sexual.
No contexto secular, nota-se que as músicas de forró eletrônico, sertanejo universitário e funk, com seus hits de sucesso, estão saturadas de lascívia, visto que é dominante a linguagem vulgar, obscena, de duplo sentido, com foco quase que generalizado em práticas sexuais. E nossas crianças consomem este produto desde cedo.
O sexo é produto de venda. Nada mais lucrativo do que vender corpos, e a prostituição hoje adquire milhares de formas e modelos.
E, claro, a mídia tem papel fundamental dentro dessa perspectiva de desenvolvimento a partir do consumo. A propaganda e a publicidade transformaram o simples ato de consumir em dádiva, num culto eterno ao prazer e a mercadoria. Afinal, toda mercadoria/produto hoje possibilita o cidadão mostrar a sua importância social a partir do que ele consome (e onde ele consome). Este cenário nos permite compreender o porquê desse desejo e necessidade desenfreada por consumo apresentando-nos elementos que nos permita criar formas de resistir e lutar contra essa cultura que perpetua a desigualdade social, possibilitando assim a queda do muro dos marcadores da diferença de classe.
A luxúria torna-se um valor na modernidade, porque o sexo também deve ser consumido desmedidamente e sem parâmetros, afinal o prazer imediato é o único que se tornou verdadeiro. Quem sem preocupa com a eternidade? Os valores cristãos parecem piada para um sociedade consumista, hedonista e altamente egoísta.
7. Castidade: o exercício cristão de equilibrar-se humanamente
O Sexto Mandamento de Deus trata dos pecados contra a castidade, que “significa a integração correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual” (CIC 2337). Ainda segundo o Catecismo, “todos os batizados são chamados a viver a castidade”, cada um dentro do seu estado de vida, evidentemente (CIC 2348).
Assim, uma vida de castidade é o ideal para solteiros e casados, jovens e adultos. Ser casto não significa não fazer sexo, significa viver o seu estado de vida de modo ordeiro, sóbrio, equilibrado e com maturidade. Um casal vive a castidade quando sua vida sexual orienta-se para o amor e o carinho recíprocos, quando se prestou a geração de filhos e quando faz da intimidade um momento de ação de graças. Costumo dizer que a cama é para o casal o que o altar é para o padre, o momento mais sublime do sacramento que foi assumido.
Na teologia existem três palavras para definir o amor, e consequentemente, orientar o exercício da castidade: eros, filia e ágape. Eros refere-se ao amor corporal, genital, o
mais sensível e imediato, mas também o mais momentâneo; a filia refere-se ao amor amizade, companheirismo, aquele amor que me leva a ter prazer na companhia da pessoa amada, e que não supõe relação de ordem sexual íntima; já o ágape é o amor por excelência, o amor doação, o amor que ama acima de tudo e apesar de tudo, que perdoa e que crê; Jesus nos ama com o ágape, pois ofereceu a vida por nós. O amor ágape se oferece pelo amado, entrega-se em egoísmo e sem perguntas. Deus é ágape e pede que sejamos ágape para nossos semelhantes. Uma pessoa casta é uma pessoa que ama na medida do ágape!
A doutrina da Igreja insiste em ensinar que o prazer sexual não é algo condenável, como muitos ainda imaginam, desde que seja vivido em harmonia com as suas finalidades: união e procriação. Isso quer dizer que aos casais, unidos em matrimônio e abertos à vida, é perfeitamente natural obter os prazeres oriundos da relação sexual. Fala-se inclusive do prelúdio sexual, que é a forma de promover, pelas carícias mútuas, o momento da penetração e do ápice do ato sexual. Somente quando o prazer sexual é fim em si mesmo, torna-se moralmente desordenado. Por isso, atos como a masturbação e o adultério são condenáveis pois denotam um indivíduo imaturo no conhecimento e domínio de seus instintos sexuais (CIC 2352).
O principal órgão sexual do ser humano é o cérebro. Quanto mais nos entregamos à nossa imaginação, às fantasias desmedidas, mais nos perdemos, mais nos tornamos escravos dos nossos próprios desejos. Como sair desse triste estado mental?
Através do contato diário, concreto e amoroso com Deus é que conseguimos reverter essa situação. Reze diariamente, vá a Igreja com frequência, ocupe sua mente com as coisas santas, o serviço ao próximo. Quer saber como combater esse pecado? É simples, um combo muito eficaz de oração, jejum, amor pela castidade e missa dominical e uma boa confissão.
Para vencer o pecado da luxúria, a Igreja propõe a prática da castidade, isto é, viver a pureza do coração, para que o olhar sobre o outro também seja puro. Uma maneira de evitar a luxúria é procurar relacionamentos profundos e duradouros, onde você consegue ter prazer e liberdade sexual junto com o carinho, a cumplicidade, o afeto e o espírito. O sexo passa a ser mais gostoso, pois você se sente à vontade para propor novidades, experimentar e criar com seu parceiro.
Fonte: Padre Evaldo César de Souza, C.SS.R