Ainda não sabemos exatamente qual será o impacto que a pandemia do COVID-19 deixará para as décadas futuras, mas é certo que o mundo não será o mesmo depois da disseminação do coronavírus. Assim como outros acontecimentos históricos relevantes, a pandemia que assola o planeta será parte essencial do modo como o ser humano passa a compreender mais e melhor o mundo que o encerra. Se o prejuízo material para a economia do planeta está sendo imenso, muito maior é o prejuízo afetivo que devastou a vida de milhões de pessoas. Para que as tiveram suas vidas ceifadas pelo vírus, resta-nos a dor. Para os que enterram seus mortos às pressas e sem poder fazer os ritos funerais de despedida obriga-nos a solidariedade e o consolo mútuo. Todos somos vítimas da pandemia, mortos ou vivos, somos parte dessa página de dor que nos encontrou tão desatentos e desprevenidos.
Talvez o maior impacto da COVID-19 tenha sido a sensação de impotência e de medo. Agora, diante das vacinas que começam a ser aplicadas na população, uma chama de esperança nos rodeia, mas quem de nós não se sentiu tocado pelas garras da morte quando do estopim inicial do surto de coronavírus? As notícias incessantes sobre a pandemia, que invadiram nossa casa pelos meios de comunicação, também invadiram nossa psique e nos deixaram atônitos e temerosos. Nos trancamos em casa, isolamo-nos uns dos outros e de repente, a rotina da vida alterou-se drasticamente. Os laços de afeto, os abraços e visitas, os passeios pelos parques e a ida ao mercado tornaram-se, de uma hora para outra, comportamentos de risco a serem evitados. Muitos caíram em profunda angústia, depressão, tristeza. Pais redescobriram que tinham filhos e que estes exigem atenção, idosos se tornaram prioridade e a vida revelou seu lado mais frágil.
O que nos aflige, ainda, é saber que ainda estamos sujeitos ao mal que este vírus trouxe para o mundo. Ele nunca mais desaparecerá, está aí, em todo canto, e o máximo que vamos conseguir, será protegermo-nos contra os efeitos mortíferos que ele traz para muitos. A imunização, esperada e necessária, talvez nos dê algum alívio, mas é aqui que eu me pergunto: o que será do mundo pós-COVID-19? Como seremos afetados, a longo prazo, por esta pandemia? Qual a resposta de fé que poderemos dar a este mundo, que infelizmente, perdeu um pouco mais a capacidade da proximidade entre as pessoas?
A nossa experiência de fé, marcada pela presença do Cristo Ressuscitado, é marcada pela força da comunidade. Somos Igreja, Povo de Deus, na bela expressão chancelada pelo Concílio Vaticano II. A pandemia também entrou pelas portas da Igreja, e nos obrigou a interromper nossas liturgias, encontros, reuniões. A proximidade afetuosa promovida pela fé também foi afetada pelo vírus, e de repente, mesmo com o retorno lento de nossa rotina religiosa, estamos distantes uns dos outros, sem poder trocar abraços e apertos de mão! Obviamente a nossa fé não se tornou mais débil, ao contrário, parece que estes tempos de pandemia ajudaram-nos a descobrir a força de Deus em coisas simples e nas rotinas da vida, mas é inegável e observável que estamos sofrendo muito com esse isolamento que adentrou em nossas comunidades. Toda criatividade tem sido útil, missas online, transmissões de “lives” de oração e de música, palestras, reuniões virtuais, enfim, tudo é importante nesse tempo, mas o carinho, o toque, o abraço e aquele café partilhado no final dos nossos encontros de igreja não têm feito falta para você?
Por isso, em minhas preces diárias, tenho pensado muito no amor de Jesus pelos homens e alimentado-me dessa esperança de saber que ELE tem tudo em suas mãos, e que de alguma forma, estamos aprendendo a ser pessoas melhores nesses tempos tão difíceis. Cremos no Ressuscitado e por isso mesmo, a esperança jamais adormece diante de nossos olhos. Creio, pois, que a Igreja e nós, cristãos, seremos capazes de nos preparar para o que quer que venha! O importante é que não deixemos o desânimo nos abater, e jamais percamos o espírito de oração e de contemplação. Ainda há pedras e espinhos pelo caminho, mas precisamos manter a fé em 2021. Eu creio!
Fonte: Pe. Evaldo César de Souza, CSSR