Na pandemia, a experiência da fragilidade humana, da dor e da morte, tem sido intensa, levando-nos a pensar sobre como vemos e vivemos o próprio sofrimento e o do outro, especialmente das pessoas que mais amamos. A postura cristã diante do sofrimento não implica passividade. O célebre personagem bíblico Jó permanece inquieto, em nós, perguntando sobre o que Deus está nos dizendo e esperando de nós. A pandemia faz refletir sobre o sentido da vida, sobre o que está se passando e, para onde vamos.
As situações de sofrimento não devem ser motivo para desânimo, mas ocasião para revisão de vida e de crescimento pessoal. Tempo de crise pode ser terreno fértil para discernimento e amadurecimento, para redescobrir e aprofundar o sentido da vida. A crise desinstala e provoca transformação, mas a fé ilumina a reflexão e o caminhar. Para isso, é fundamental a perseverança na oração e na meditação. É comovente o testemunho de fé de enfermos que experimentam em medida extraordinária o amor de Deus e o amor das pessoas. Há pessoas precisando da luz da fé e da força do amor. É preciso cada um sair de si, deixando de pensar tanto nos próprios sofrimentos, para caminhar em direção aos que mais sofrem, permitindo a Jó, em nós escondido, levantar-se e, então, encontrar resposta ao sofrimento humano, refazendo a experiência do Bom Samaritano. Ele, cuja figura ideal é o próprio Cristo, traz o amor solidário como solução ao sofrimento. A resposta diante do sofrimento humano deve ser feita de fé e de amor, de compaixão e de solidariedade. O distanciamento social, em benefício da saúde pública, não nos deve impedir de manifestar o amor ao próximo. São inúmeras as manifestações de proximidade afetiva, de oração e de amor, demonstradas à distância, recorrendo-se à internet, ao celular, às redes sociais, dentre outros meios de comunicação.
Entretanto, há perguntas sobre o sofrimento que, em tempos de pandemia, exigem reflexão sobre suas causas sociais e respostas de caráter político. A amenização desse sofrimento não depende somente de esforços pessoais, mas de ação comunitária, de diálogo e de debate político. O impacto da pandemia, com suas graves consequências, faz emergir e agravar desigualdades, fragilidades e situações de exclusão que já existiam antes dela, exigindo iniciativas nos diversos níveis.
A busca de respostas, no âmbito pessoal, comunitário ou social, pressupõe a esperança como perspectiva fundamental, pois somente quem conserva a esperança pode pensar o amanhã. Somos chamados a ser portadores da esperança neste tempo tão difícil. A fé, que se expressa pelo amor ao próximo, fundamenta e alimenta a nossa esperança e nos impulsiona a caminhar.
Fonte: CNBB