Cel. Fabriciano, 23 de novembro de 2024

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06 mar
Imagem: internet

Hospitalidade bíblica: acolher e amar a todos!

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Introdução

Podemos começar com uma pergunta: a hospitalidade é um dom natural de algumas pessoas ou um exercício virtuoso que deve ser praticado por todos os que creem em Cristo? Ou ainda: devo ser hospitaleiro somente com quem eu conheço e amo, que faz parte do meu círculo de amizades, ou devo ter a capacidade de ser acolhedor com pessoas que eu desconheço mas que pedem meu apoio?

Admitamos que, enquanto a arte da acolhida é facilmente exercida por alguns, pode ser bastante difícil para os outros. Nossas casas são uma extensão de nós mesmos, quando praticamos a hospitalidade, estamos tendo a oportunidade de compartilhar a sacralidade de nossa intimidade e isto exige de nós, antes de tudo, coragem. Nenhum de nós há de negar que é mais fácil compartilhar a hospitalidade com a família e com os amigos que com estranhos, no entanto, a bíblia incentiva a todos a prática da hospitalidade.

O texto de Rm 12,13 nos exorta a “praticar a hospitalidade”. O termo grego traduzido em português por “hospitalidade” é philoxenia, uma combinação de duas palavras: philos, que significa “amar alguém como a um amigo ou irmão”, e xenos, que significa estrangeiro (estranho) ou imigrante (o estrangeiro residente). Embora geralmente traduzida por “hospitalidade”, a philoxenia significa dispensação de afetos em relação aos estrangeiros, “amar estranhos ou imigrantes como se fosse o seu próprio amigo ou irmão”. Isto significa que se deve prestar aos estranhos o mesmo tipo de amor com o qual amamos a amigos e parentes. O texto da Carta aos Romanos é ainda mais incisivo porque afirma literalmente, “prossegui na hospitalidade”, ou seja, a hospitalidade não deve ser algo esporádico, mas um ato constante.

No Antigo Testamento

No antigo Oriente, a prática da hospitalidade era uma norma cultural envolta em noções de honra. Mas também a xenofobia estava presente na maioria daquelas culturas. Sendo assim, a hospitalidade como um desejo de hospedar, alimentar e entreter um convidado, ou como se diz hoje, de “receber convidados” era algo que se fazia com prazer, especialmente, com pessoas da mesma etnia, à semelhança do que hoje se faz com alguém da mesma classe social.

Porém, a cultura hebraica dá um salto antropológico e cultural e amplia o conceito de hospitalidade. O livro do Levítico (19,33-34) dá uma instrução fundamental a respeito do modo como deve ser exercida a hospitalidade: “Não oprimireis o estrangeiro que permanecer na vossa terra. O estrangeiro residente entre vós será tratado como o natural da terra; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”.

Isto significa que o povo de Israel deve agir para com o estrangeiro da mesma forma que Deus agiu com eles: com acolhida e com misericórdia. A libertação dos escravos se torna uma exemplificação de que Deus desaprova radicalmente o modo como o faraó tratou os estrangeiros residentes no Egito. Os israelitas, portanto, não devem agir à maneira do faraó, mas à maneira de Deus. Os israelitas fizeram a difícil experiência de viver como imigrantes no Egito e não podem tratar os estrangeiros da mesma forma que o faraó os tratou.

O nível mais básico da hospitalidade no Antigo Testamento está expresso em Jó 31,32: “O estrangeiro não pernoitava na rua, pois as minhas portas sempre estiveram abertas ao viajante”. Nos deveres para com o hóspede estava incluído: dar-lhe descanso, lavar-lhe os pés, dar-lhe alimento farto (cf. Gn 18,4-7); trata-lo como um servo trata seu senhor (Gn 18,8) e, por fim, proteger-lhe a vida a qualquer custo (Jz 19, 15-24).

No Novo Testamento

O texto bíblico de 1Pd 4,9 afirma: “Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração”. Este imperativo também está vinculado à prática do amor no versículo imediatamente anterior: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros” (v.8). A comunidade cristã no primeiro século se tornou o laboratório ideal para o exercício da acolhida ao outro, da hospitalidade, do mandato de amar o estranho como se faz a um amigo ou a um irmão.

O clássico refrão paulino “judeus e gregos”, para definir aqueles que aderiram a Cristo, deve ser entendido que na categoria grego se estava mencionando todos os povos e etnias conquistados pelo império romano e que desde o século IV a.C., com as conquistas bélicas de Alexandre Magno, foi imposto idioma grego como fator de unificação do império. Portanto, ao dizer “os gregos” se estava incluindo nessa categoria um sem número de povos e de etnias. E, sendo a comunidade cristã composta de  “judeus e gregos” se tornava propícia para um grande número de conflitos, mas também para o “amor intenso de uns para com os outros”, para a experiência de amar o estranho como irmão, e de fato, os cristãos se tratavam mutuamente como o termo “irmão”. Sendo assim, a hospitalidade não é apenas cumprimentar e acolher as pessoas até os pagãos fazem isto (Mt 5,47), é enfrentarmos nossos medos e a mesquinhez de nosso egocentrismo e nos tornarmos canais da hospitalidade de Deus.

Fonte: Adaptado do original de Aíla Pinheiro de Andrade

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